Detetive Especialista
De acordo com a
pesquisa da advogada Ana Cecília, quando as causas
chegam aos tribunais, na maioria das vezes os advogados omitem
que as provas foram obtidas por meio de detetives. "Menos
de 10% dos advogados informam o juiz de que as evidências
anexadas nos processos foram coletadas com a ajuda de um investigador",
diz ela. E nem todas as provas coletadas chegam à Justiça,
por um motivo simples: boa parte delas é obtida de
maneira ilegal. A escuta telefônica, por exemplo, só
pode ser feita com autorização judicial, mas
nem sempre os detetives esperam a decisão do juiz para
fazer o serviço. Instalar uma câmera no escritório
do cônjuge a ser investigado ou entrar em seu computador
também pode caracterizar invasão de privacidade.
Provas conseguidas dessa maneira, ainda que não valham
como documento no processo judicial, servem para nortear os
advogados sobre que caminhos seguir. Se o detetive consegue
descobrir por meios pouco ortodoxos que o marido está
desviando os bens da família, será muito mais
fácil para os advogados obter documentos legais que
comprovem esse fato.
Segundo o Instituto
Brasileiro de Direito de Família (Ibdfam), uma associação
nacional de advogados e juízes, o próprio Código
Civil Brasileiro incentiva indiretamente a ação
dos detetives ao instituir a figura do culpado pelo fim do
casamento. De acordo com a lei, se as provas apontam que um
dos cônjuges é responsável pelo fracasso
da união, ele pode ter de pagar indenização
ao parceiro por danos materiais e emocionais. O adúltero
é automaticamente apontado pela lei como culpado pelo
fim do casamento. O cônjuge que legalmente recebe a
pecha de culpado perde o direito à pensão alimentícia
ou ganha uma pensão menor. Comprovar a culpa do outro
no fracasso da união é um dos principais motivos
que levam os casais a travar brigas homéricas nos tribunais.
"A figura do cônjuge culpado é um atraso do ponto
de vista jurídico", diz o advogado Rodrigo da Cunha
Pereira, presidente do Ibdfam. "Casamentos nunca se desmancham
por culpa exclusiva de um dos parceiros. Muitas vezes o cônjuge
trai porque o casamento já acabou", ele completa. Existe
um projeto de lei, elaborado pelo Ibdfam, que extingue o fator
culpa do Código Civil. Ele ainda aguarda aprovação
no Congresso Nacional.
Enquanto a lei
não muda, muitos juízes utilizam o bom senso
em suas decisões, evitando apontar culpados nos processos
de separação. Nos últimos cinco anos,
o adultério passou a ser usado como argumento nas decisões
dos processos apenas se existir um pacto pré-nupcial,
firmado por meio de contrato, estipulando penalidades no caso
de traição. A culpa geralmente só entra
em pauta quando há evidências de maus-tratos
ao cônjuge ou aos filhos ou ainda em casos de desvio
de patrimônio. Não é só no Brasil
que os casais contratam detetives. Uma pesquisa da consultoria
britânica Grant Thornton feita há três
meses mostrou que 49% dos casais que se separaram na Inglaterra
no ano passado recorreram aos serviços de investigação
particular para checar possíveis traições.
Os principais clientes – 61% – foram as esposas.
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